Escuta, Israel


O Evangelho deste domingo (31/10) narra o encontro de Jesus com um mestre da lei. Ele acompanhou a discussão de Jesus com os saduceus acerca da ressurreição dos mortos e ficou admirado com a sabedoria de Jesus. O mestre da lei se aproxima e questiona Jesus: “Qual o primeiro de todos os mandamentos”? 

Jesus responde citando como primeiro mandamento o início da oração “Shemá Israel” (cf. Dt  6,4-9). Trata-se da grande profissão de fé do hebreu para com o Senhor repetida três vezes no dia e que contém toda a tradição de sua fé: “Ouve, ó Israel! O Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e com toda a tua força” (Dt 6,4-5). Esta oração revela que a escuta é essencial para quem tem fé, revela a relação entre a humanidade e Deus: a escuta obediente é o fundamento do amor. Através da oração o ser humano acolhe o Senhor com fé, toma conhecimento de que Ele é único e reconhece o seu amor eterno. 

Neste sentido descobrimos que amar a Deus é escutá-lo: é uma decisão para entrar em relação com o Outro. Não é ouvir pela metade, porque tal atitude indicaria desprezo. A escuta verdadeira supõe se despojar do que nos preocupa, presta atenção na palavra do outro para acolher e deixar germinar. 

Amar a Deus é buscá-lo. Esta é a identidade do povo de Israel: eles buscam a Deus para se comunicar com ele. De tal modo que são conhecidos por “buscadores de Deus”. A busca é sinal de amor. 

Amar a Deus significa praticar os seus mandamentos, obedecer a sua lei. Os mandamentos foram dados não para ser um peso, mas para que indiquem um caminho que conduz à verdadeira vida. 

Amar a Deus significa retornar a Ele. Certamente muitas buscas conduzem a estradas erradas, que escravizam e matam. Encontrar a estrada para retornar ao verdadeiro amor é sabedoria. A estabilidade não é inerente ao ser humano: é instável, infiel. A fidelidade pertence a Deus. O ser humano manifestar o seu homem quando sabe retornar: “Vamos voltar ao Senhor: ele nos despedaçou e nos curará, nos feriu e nos atará a ferida” (Os 6,1). 

Em seguida, Jesus aponta o amor ao próximo como síntese dos mandamentos. Devemos olhar estes ensinamentos à luz da morte e ressurreição de Jesus. Ou seja, o amor não pode ser medido, não há uma lógica simétrica para amar. Jesus alarga o horizonte do ser humano e coloca como critério da vida cristã o amor ser medidas. 

A cruz é o momento revelador da lógica divina, porque a morte de Jesus redefine a imagem de Deus e a imagem da humanidade. Deus se coloca ao lado dos frágeis, coloca-se ao lado das vítimas. Deus se coloca ao lado do próximo: justo ou pecador, rico ou pobre, digno ou indigno. Ele se torna objeto de um amor gratuito e indestrutível. Na cruz Jesus nos diz que Deus nos ama como somos. Não uma humanidade idealizada, mas real, a humanidade e o mundo como realmente são. A cruz é a última palavra que oferece uma chave de leitura que o “como a si mesmo”. 

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Dom João Carlos Seneme

Dom João Carlos Seneme é bispo da Diocese de Toledo. Novos conteúdos são publicados semanalmente.

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