Bem-aventurados os que creram sem terem visto


Foto: Toledo News

Neste segundo domingo do Tempo Pascal, Domingo da Misericórdia, 16 de abril, as leituras nos colocam no grande evento da Ressurreição, de modo especial, como este acontecimento mudou a vida na primeira comunidade dos discípulos em Jerusalém.

O medo dá lugar à coragem; a tristeza à alegria. Desta experiência pascal nasce a comunidade (Igreja) onde todos tinham os mesmos sentimentos.

É ali eles são enviados para anunciar a paz e a força do Espírito para o perdão dos pecados: “A paz esteja convosco! Como o Pai me enviou, também eu vos envio. Recebei o Espírito Santo! A quem perdoardes os pecados, eles lhes serão perdoados” (Jo 20, 21-23).

O Evangelho nos ajuda a reviver os acontecimentos na vida dos discípulos depois da morte de Jesus. Eles, apesar de tudo, continuam se reunindo. São João acentua que é noite, o primeiro dia da semana, os apóstolos estavam em uma casa com as portas trancadas, por medo dos judeus. Jesus entra no contexto da vida deles e ajuda os Apóstolos a compreender tudo o que estava acontecendo, principalmente, a Ressurreição de Jesus. Eles devem associar o Cristo morto e crucificado ao Cristo
Ressuscitado.

Jesus se apresenta no meio deles e os saúda com a paz. Os discípulos devem aprender um novo modo de se relacionar com Jesus, pois Ele não está no meio deles como antes. Por isso a dificuldade em se abrir; precisamos de “olhos pascais” para ver Jesus.

O dom do Ressuscitado é a paz, shalom! A consequência é o envio para anunciar a todos que o Senhor está vivo. A promessa é que eles não estarão sozinhos: “Eis que estarei convosco todos os dias”. Esta experiência continua viva até hoje, por isso nossa Igreja continua em pé, vivendo cada dia mais, enfrentando perigo, medos, porém reunida em nome do Senhor. “Onde um ou dois estiverem reunidos em meu nome e estou ali no meio deles”.

As dificuldades e obscuridades do crer estão bem descritas neste encontro de Jesus ressuscitado com o apóstolo Tomé. Todos nós estamos ali com eles, nossa lentidão no caminho da fé, nossas crises e nossos medos. A fé não é fácil de conquistar, nem fácil de manter. A fé precisa de momentos de amadurecimento e aprofundamento. Tomé expressa o drama de quem se decepciona e não acredita. Mas Jesus vai ao encontro de cada ser humano. Jesus procura um encontro com a pessoa humana para fazê-la participar da sua alegria e da sua glória. A fé vem do alto, é um dom de Deus, nunca é
fruto do esforço humano. A fé não é fruto da razão.

Finalmente Tomé se rende e acolhe Cristo Ressuscitado: “Meu Senhor e meu Deus”! É esta a profissão de fé cristológica mais importante de todo o Evangelho e corresponde à solene proclamação do primeiro verso do Evangelho: o fiel atingiu a luminosidade total da fé. Tomé como muitos outros precisam do testemunho de quem já fez uma caminhada e acreditam.

As chagas/estigmas, sinal de seu amor extremo, evidenciam que o Ressuscitado é o mesmo que morreu na cruz. Já não há lugar para o medo da morte. Ninguém poderá tirar de Jesus a verdadeira Vida, nem tirá-la dos seus discípulos. A permanência dos sinais de sua morte indica a permanência do amor; elas são as cicatrizes de um compromisso com a vida. Além disso, elas garantem a identificação do Ressuscitado com o Jesus Crucificado.

O evangelista prossegue com uma última palavra de Jesus a Tomé: "Bem-aventurados os que creem sem terem visto". O caso do Apóstolo Tomé é importante para nós pelo menos por três motivos: primeiro, porque nos conforta em nossas inseguranças; segundo porque demonstra que qualquer dúvida pode levar a um êxito luminoso; e por fim, porque as palavras que Jesus dirige a Tomé nos recordam o verdadeiro sentido da fé madura e nos encorajam a prosseguir, apesar das dificuldades, pelo nosso caminho de adesão a Ele.

Dom João Carlos Seneme, css
Bispo diocesano de Toledo

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Dom João Carlos Seneme

Dom João Carlos Seneme é bispo da Diocese de Toledo. Novos conteúdos são publicados semanalmente.

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