Circo da Alegria encerra Festival Nacional com ótimos resultados e perspectivas para o futuro


Foto: Divulgação - Eliane Torres

Os coordenadores da XVII Mostra de Circo e X Festival Nacional de Circo, Dado Guerra e Paula Bombonatto, encerraram na sexta-feira, 24, a programação com a certeza do dever cumprido e da conquista de ótimos resultados com a participação intensa do público, troca de informações e experiências entre os artistas e um crescimento de qualidade nos projetos apresentados pelos grupos de circo social. O evento foi realizado em Toledo de 20 a 24 de novembro com a presença de 19 grupos de circos sociais e artistas convidados de vários estados. Somente no Cabaré do Fidalgo, uma homenagem ao artista circense Marcos Freitas, que faleceu em 2020 em consequência de complicações da Covid-19, reuniu algumas das maiores expressões circenses em um único palco. Participaram Aires Coutinho e Alexandre Gabardo, Ystilingue, Rodrigo Mallet, Fábio Silvestre, Vanuza Heloísa e Mariana e Camila Cequinel, cada um fazendo o seu número, amarrados pela energia e lembranças do Reverendo Fidalgo. “Era uma homenagem que há tempo queríamos fazer e que agora deu certo. O Fidalgo, sempre que vinha para a região passava em Toledo, vinha no Circo da Alegria, trazer a sua experiência e conhecimento. Ele tinha um carinho enorme pelo Circo da Alegria e nós por ele” afirma Dado Guerra. 

A participação do público, que todo o ano aguarda com grande expectativa a chegada do evento, a evolução apresentada pelos grupos e os espetáculos de alto nível comprovam o sucesso da Mostra e Festival. Segundo ele, a comissão julgadora registrou um salto de qualidade técnica e estética nos trabalhos apresentados pelos grupos, o que comprova também o envolvimento e o crescimento profissional dos instrutores.  Ele destaca, no entanto, que assim como Toledo, outros grupos necessitam de um apoio público maior, com políticas de incentivo que permitam assegurar os recursos humanos e de infraestrutura necessários. 

Ele espera que o tombamento do Circo da Alegria se reflita em mais investimentos e apoio ao projeto para ampliar e fortalecer o trabalho, além de trazer novidades para o próximo ano, com atrações internacionais no Festival e algumas remodelações que garantam uma participação mais efetiva dos gestores públicos. “Todos os anos sentimos a falta desta participação. É importante que os gestores vejam o que os grupos estão fazendo, as suas necessidades e resultados para que o trabalho possa crescer e evoluir cada vez mais. São eles que têm poder de decisão com relação e recursos e políticas a serem implementadas.” 

A mudança de comportamento das crianças pós pandemia, que estão mais apáticas, sem tanta garra e força de vontade, exige ainda mais dos instrutores e requer uma equipe multidisciplinar de apoio. “É uma nova geração que está vindo, totalmente diferente, que precisa ser trabalhada do zero. É necessária uma rede de apoio melhor para recuperar o que foi perdido durante este período de isolamento”, observou Dado. Segundo ele, serão anos de trabalho para recuperar o tempo perdido nestes dois anos de isolamento e inatividade das crianças e jovens. 

“É uma nova consciência que precisa ser trabalhada e isso aumenta ainda mais a responsabilidade do projeto, requer novos investimentos em estrutura e pessoal, não somente na área circense como em outras áreas com apoio psicológico e social, que vão muito além do circo”. O Circo da Alegria atende hoje cerca de 100 crianças no contraturno escolar e Dado espera que o tombamento do projeto resulte em novos investimentos e ações para ampliação e fortalecimento do projeto. 

Troca de experiências 

Para Paula Bombanatto, um dos aspectos extremamente positivos que Festival traz aos participantes é a possibilidade de troca de experiências e isso está bem claro em Toledo. É como numa família, somos uma família de festivais que nos encontramos todos os anos. A gente percebe o carinho, o cuidado, a atenção que os profissionais dão às crianças, acompanham o seu crescimento, a entrada dos irmãos e assim por diante. Eles se preocupam no somente em relação à arte, mas com o desenvolvimento pessoal e profissional, incentivando a estudar, buscar novas especializações, aproveitar as oportunidades que batem às suas portas. “Isso é muito gratificante”, frisa. 

Muitas vezes, comenta ela, por mais que o instrutor fale, é importante que outra pessoa, a qual eles consideram muito, coloque. “Não é uma falta de consideração ao instrutor, mas é como na casa da gente, se a mãe fala todos os dias para o filho ele não ouve, mas se vem alguém de fora e diz a mesma coisa, o efeito é outro”. Além disso, ela observa as diferenças regionais existentes no Paraná e outros estados. “Cada um tem uma metodologia, uma ação, uma proposta diferente e isso pode ser aproveitado, respeitando a realidade de cada um. Isso é muito enriquecedor e estas trocas ocorrem em todos os momentos, seja em mesas de debates formais, seja no dia a dia, nas rodas de conversas entre os participantes”. 

Durante o evento ela expôs a metodologia de trabalho desenvolvida no Circo da Alegria em Toledo e incentivou os grupos a implementarem algumas ações, aproveitando a experiência local. Ela ressaltou a necessidade de aproveitar os hábitos das crianças e jovens ao invés de ir contra a sua realidade. Segundo ela, o uso constante do celular é um exemplo claro. “Não tem como eu proibir o uso do celular por um adolescente que cuida da mãe doente, que precisa buscar o irmão na escola e assim por diante”.  No Circo foi aproveitada esta realidade para ministrar um curso de fotografia com celular e depois um concurso. “Eles amaram, aprenderam e hoje temos os nossos registros feitos por eles no circo, sem a necessidade de contratar outros profissionais, e despertamos nele uma nova possibilidade de trabalho e renda”.   

O mesmo ocorreu em relação ao tema escolhido para o espetáculo do Circo da Alegria. O enredo do velho oeste e a violência aí implícita gerou uma preocupação inicial diante dos casos de violência nas escolas registrados neste ano. O tema permitiu que esta questão fosse discutida com o grupo e ela acredita que o diálogo é fundamental para resolver questões do dia a dia.  “Fizemos um trabalho maravilhoso, abordamos diversos temas, as crianças participaram, discutiram, pesquisaram, se divertiram muito. Fizemos um espetáculo muito leve, divertido e isso a gente percebeu no semblante das crianças no palco que se apresentaram brincando, alegres, felizes. Só recebi elogios e independente deles, fiquei muito satisfeita com o resultado, porque as crianças estavam felizes”. 

Brincadeira de gente grande 

Ela também destaca que a concessão de bolsas aos alunos, através do projeto Respeitável Público, exige uma discussão maior e um aprimoramento constante, porque daí vão surgir os futuros profissionais. “Queremos que este projeto tenha continuidade e para isso precisamos capacitar estes jovens que vão nos suceder. Só assim teremos um trabalho de qualidade”.  

Paula defende ainda um olhar diferenciado das famílias sobre o projeto. Segundo ela, muitas famílias veem o circo como uma brincadeira de criança e que a medida que ela cresce chega um momento que precisa deixar para ir trabalhar. Na verdade, afirma Paula, o circo oferece várias oportunidades, inclusive em outras áreas, o que pode lhe proporcionar uma profissão e renda que satisfaçam as suas necessidades. Mais do que uma profissão, o projeto transmite valores que serão úteis, independentemente da área em que o jovem for atuar. 

“O circo não é uma brincadeira. É muito mais sério que muita gente imagina. Tanto que ele é considerado a mãe das artes, que mistura a dança, a música, o teatro e precisamos levar isso muito a sério. Precisamos trabalhar para que as pessoas entendam isso e a formação é o caminho”. 

A XVII Mostra de Circo Social e X Festival Nacional de Circo estão sendo realizados em Toledo com recursos da Lei de Incentivo à Cultura e patrocínio da John Deere - M A Máquinas e Estrada Distribuidora de Combustíveis Dall Óglio. Conta com o apoio da Prefeitura Municipal de Toledo, Secretaria da Educação, Secretaria da Cultura, Circo da Alegria, Funarte, Design Cultural Trintra & Um, Sand Paper, Enclo - Escola Nacional de Circo Luiz Olimecha, BWA, Rosenberger Formaturas, Pingos D' Arte, Locação Nacional, Carbox Band, Banda Sameoldsay, Escola Municipal Anita Garibaldi  

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