Sede misericordiosos como Deus é misericordioso


Foto: Toledo News

Na semana passada lemos a passagem das bem-aventuranças presentes no Evangelho segundo Lucas. O tema deste domingo (20) de fevereiro, amar os inimigos, dá continuidade às bem-aventuranças e, pode-se dizer  é sua realização. Jesus alerta seus discípulos sobre o amor absoluto que deve orientar suas condutas.

Na primeira parte de seu discurso, Jesus indica, com três verbos, como aqueles que creem n’Ele, como revelador do Pai misericordioso, devem agir diariamente: “Amar, fazer o bem, abençoar e orar”. Todas essas quatro “práticas” são ilustradas em sua paradoxalidade, ou seja, devemos amar aqueles que não nos amam, devemos fazer o bem a quem nos prejudica, abençoar aqueles que falam mal de nós e rezar por aqueles que esperam nossa derrota. 

O cristão, como vimos na semana passada, deve usar uma lógica invertida, que nada mais é do que a lógica da cruz. Jesus mostrou isso com sua própria vida: respondeu com uma morte ignominiosa àqueles que o queriam rei (e vivo).

Jesus afirma no seu discurso que amar é colocar-se no lugar do outro. A partir do amor, o cristão orientará todas as suas escolhas e suas consequências, mesmo que parecem sem lógico diante do mundo. 

O amor ao inimigo é o coração da ética de Jesus e o texto do Evangelho do hoje o demonstra com toda clareza. Os inimigos de que fala Lucas são aqueles que odeiam, amaldiçoam, caluniam, golpeiam, oprimem repetidamente: aqueles que são hostis aos discípulos de Cristo. Não é apenas uma questão do ódio nas relações pessoais; trata-se também do ódio contra a comunidade cristã. Como podemos acompanhar nas redes sociais, nos noticiários. Cada vez se evidencia a banalidade do mal. Mata-se por uma briga no trânsito, ou por um casamento desfeito. É preciso retomar o significado do amor a partir de Jesus Cristo. Quando Jesus proclama: “Amai os vossos inimigos...”, Ele dá a seus discípulos um modelo radicalmente diferente da “medida de justiça” vigente nos códigos e costumes dos tribunais.

É fácil? Não. É impossível? Jesus provou que não. É preciso acreditar e viver de acordo com a Palavra. O próprio Jesus mostrou, em sua completa humanidade, que isso é de alguma forma possível. E também mostrou que não é nada fácil. Até ele experimentou o abandono de Deus na cruz.

O Evangelho nos apresenta o amor “ágape”, amor doação, ele não consiste na busca da realização pessoal, mas no sacrifício de dar a própria vida pelos outros. O Pai de Jesus ama a humanidade a ponto de dar a própria intimidade (o filho) para que ela seja salva. 

O amor aos inimigos não é um dado marginal e periférico, ele dá sentido e orientação ao amor cristão. Todos os outros comportamentos podem esconder um certo egoísmo (busca de si mesmo através dos outros). Somente quando se doa sem esperar recompensa, quando se ama sem que o outro mereça, aí então se compreende o mistério do amor que nos ensina e nos oferece Cristo. Viver esta realidade é acreditar na revolução de nossa história. 

“O amor, para ser verdadeiro, tem de doer. Não basta dar o supérfluo a quem necessita, é preciso dar até que isso nos machuque” (Madre Teresa de Calcutá).

* As informações contidas nos artigos de colunistas, não necessáriamente, expressam a opinião do Toledo News.

Dom João Carlos Seneme

Dom João Carlos Seneme é bispo da Diocese de Toledo. Novos conteúdos são publicados semanalmente.

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