Astúcia e fidelidade no Reino de Deus


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O Evangelho deste domingo (21) nos provoca com uma parábola desconcertante: um administrador desonesto que, surpreendentemente, recebe o elogio do patrão por sua astúcia (Lc 16, 08). À primeira vista, parece estranho que Jesus utilize um personagem de conduta questionável para transmitir uma lição espiritual. No entanto, como em outras parábolas, o centro da mensagem não está no comportamento do administrador em si, mas na figura do patrão — aquele que confia, observa, julga e, ao mesmo tempo, revela uma inesperada generosidade.

O patrão, rico em bens e em generosidade, enxerga além da desonestidade do administrador: percebe nele a capacidade de ousar, de agir com criatividade diante da crise. Só um senhor verdadeiramente “rico em misericórdia” (Ef 02, 04) pode admirar, não a fraude, mas a sagacidade de quem não se deixa paralisar pelo fracasso. Essa riqueza de coração reflete a própria generosidade de Deus, que prefere um servo criativo, ainda que imperfeito, a um burocrata medroso e estéril nas coisas do Reino.

Jesus não nos convida a agir com desonestidade, mas a aprender com a determinação dos “filhos deste mundo”. Se eles se empenham tanto para assegurar os seus interesses passageiros, quanto mais nós, filhos da luz, devemos investir nossos dons com ousadia no que é eterno! O Senhor nos pede determinação, coragem e criatividade espiritual para viver uma fé que não se acomoda, mas arrisca pelo Evangelho.

O profeta Amós recorda: o verdadeiro discernimento está na atitude diante dos pobres e humildes (Am 08, 04). Jesus confirma: “Fazei amigos com o dinheiro da injustiça, para que, quando este faltar, eles vos recebam nas moradas eternas” (Lc 16, 09). Isso significa usar os bens — limitados e frágeis — como instrumentos de comunhão, solidariedade e amizade. Aquilo que poderia se tornar idolatria deve se transformar em oportunidade de partilha.

O Senhor insiste: quem é fiel no pouco será fiel também no muito (Lc 16, 10). O pouco é a vida cotidiana, os dons simples, o tempo, os recursos, os gestos discretos de cuidado. O muito é a vida eterna, a plenitude da comunhão com Deus.

O uso que fazemos dos bens terrenos revela a quem servimos: se ao Deus da vida e do amor, ou ao ídolo do egoísmo e da acumulação.

A Palavra de Deus nos ensina que até mesmo o fracasso pode ser ocasião de graça, se respondido com humildade e criatividade. Nada está fora do alcance de Deus: cada situação, por mais difícil, pode se tornar espaço de conversão e caminho de santidade. O importante é viver como administradores fiéis, conscientes de que tudo nos foi confiado e tudo deve ser colocado a serviço. Ser administrador do Reino é viver com ousadia, criatividade e fidelidade. É transformar o pouco em muito, o transitório em eterno, os bens materiais em vínculos de amor. Não basta ter as mãos erguidas em oração (01 Tm 02, 08); é preciso também ter as mãos que partilham, que ajudam, que constroem amizade. O Senhor nos pede que sejamos não meros funcionários das coisas de Deus, mas amigos criativos, administradores da graça, que sabem arriscar pelo Evangelho.

Dom João Carlos Seneme, css

Bispo de Toledo

* As informações contidas nos artigos de colunistas, não necessáriamente, expressam a opinião do Toledo News.

Dom João Carlos Seneme

Dom João Carlos Seneme é bispo da Diocese de Toledo. Novos conteúdos são publicados semanalmente.

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