Copa do Mundo a cada dois anos é um atentado a essência e ao ecossistema do futebol


Foto: Toledo News

Em um primeiro momento pode parecer mágico, extraordinário, fenomenal e uma série de outros adjetivos positivos, mas com o passar dos anos com certeza será terrível. Mas o que está acontecendo? A Fédération Internationale de Football Association (FIFA) quer uma Copa do Mundo de dois em dois anos e não mais a cada quatro anos como sempre ocorreu.

O respeitadíssimo ex-treinador do Arsenal e atual diretor de Desenvolvimento de Futebol da FIFA, Arsene Wenger é um dos idealizadores do projeto, encabeçando um estudo junto à Federação de Futebol da Arábia Saudita. Baseando-se nesse estudo, o treinador dos ‘Invencíveis do Arsenal de 2004’ acredita que o Mundial a cada dois anos ajudaria a desenvolver o esporte a nível global, com destaque para países menos relevantes no cenário atual.

O presidente da FIFA, Gianni Infantino, disse recentemente em uma conversa com jornalistas israelenses em uma visita ao Oriente Médio que uma Copa do Mundo de dois em dois anos não perde a sua essência. “A reputação de um evento não depende de sua frequência, mas de sua qualidade. Todos os anos temos Super Bowl, Wimbledon e Champions League e todos aguardam ansiosamente. Então, por que não uma Copa do Mundo a cada dois anos?”, argumentou o mandatário da entidade que rege o futebol mundial.

Na última terça-feira, 19, membros da FIFA estiveram reunidos por videoconferência com os treinadores das seleções nacionais, reunião que continua na quinta-feira (22) para debater o tema. A ideia é que as 201 federações filiadas à FIFA votem o projeto em uma conferência a ser realizada em dezembro deste ano. A UEFA e a CONMEBOL já demonstraram contrariedade à iniciativa, enquanto a CAF parece favorável. 

Eu sou jornalista, mas acima de tudo amo esporte, futebol e Copa do Mundo. Espero ansiosamente pela Copa do Mundo durante quatro anos e me divirto ao extremo com os 30 dias desse espetáculo. 

Mas se eu gosto tanto da Copa do Mundo não deveria estar feliz com essa ideia? Não! Claro que não! E vou citar os meus motivos e de muitas pessoas. A Copa do Mundo é o torneio mais importante do futebol e isso já é o suficiente para destacar a sua relevância, mas tudo isso é reforçado pelo seu caráter especial, pois um torneio realizado a cada quatro anos é raro, gera mais expectativa e isso lhe transfere uma magnitude ainda maior.

Vamos citar alguns exemplos. Desde 2007 a Copa América é realizada de quatro em quatro anos e isso a tornou mais especial e relevante, porém nos últimos sete anos tivemos quatro edições desta competição. Bom, isso virou motivo de chacota e banalizou uma competição que era muito legal. 

Vamos a outro exemplo, o presidente da FIFA disse que esperamos ansiosos por Wimbledon, Super Bowl, e Champions League mesmo sendo eventos anuais. Sim. Esperamos. No entanto, todos esses eventos não modificam o ecossistema de seus esportes e já estão enraizados na mente do público da forma que são.

Também podemos falar de todos os problemas que essa mudança irá causar no ecossistema do futebol. Copa do mundo ano sim, ano não e ainda temos as competições continentais de seleções, além é claro de mais uma disputa de eliminatórias, o que também impactaria nos jogos de clubes (eles que pagam os salários dos atletas) só geraria uma quantidade maior de jogos e menos qualidade nas partidas.

Sim, menos qualidade! Alguns vão dizer que os melhores jogadores do mundo são milionários e por isso devem jogar muitas partidas, todos os dias se necessário. No entanto, esses atletas só parecem máquinas, mas não são e precisam do mínimo de descanso para entregar um espetáculo de qualidade, que é tudo que o público merece.

Mas por que a FIFA quer mais edições de Copa do Mundo? Simples. A Copa do Mundo é a única competição organizada pela entidade que rende lucro e muito lucro, logo mais edições renderia ainda mais grana a entidade. Em um primeiro momento a FIFA deve lucrar muito mais, todavia com o tempo o Mundial pode perder um pouco da essência de raridade e também perder o apelo dos patrocinadores e mesmo acontecendo mais vezes poderá gerar menos lucro.

Agora é esperar dezembro e ver qual será a decisão da FIFA e de seus associados. Eu volto a apelar, não FIFA, não destrói a Copa do Mundo.

* As informações contidas nos artigos de colunistas, não necessáriamente, expressam a opinião do Toledo News.

Kelvin Polasso

Kelvin Polasso é jornalista, formado em 2018 no Campus de Toledo do Centro Universitário FAG. Atualmente cursa marketing no Centro Universitário Uningá. No momento atua na área jornalística e tem experiência na cobertura de eventos esportivos em Toledo e no Paraná. Kelvin não esconde o seu amor, paixão e entusiasmo quando fala sobre esporte e também deixa evidente que torce pelo Grêmio, mas podem ficar tranquilos que quando houver alguma análise a sua ‘alma castelhana’ não irá pesar.

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