Toda pessoa boa tira coisas boas do bom tesouro do seu coração


Foto: Toledo News

A justiça nos relacionamentos humanos constitui o motivo principal nas leituras deste 8º Domingo do Tempo Comum. Há uma questão fundamental: em quem se pode inspirar no relacionamento recíproco, na correção fraterna, no julgamento em determinadas situações? A resposta de Lucas é clara: a única fonte de inspiração é o comportamento de Deus. O evangelista Mateus acentuava ser perfeito como Deus é perfeito; Lucas enfatiza a perfeição na prática da misericórdia: é a regra de ouro da vida cristã. 

Somos salvos não tanto por nossas virtudes, mas pela misericórdia que despertamos no coração de Deus por causa das nossas necessidades e fraquezas.

A passagem de Evangelho de Lucas (Lc 6,39-45) se articula em torno de três imagens: o olho, a árvore, o tesouro. “Por que vês tu o cisco no olho do teu irmão e não vês a trave do teu próprio olho”? Por que investigas a alma de seu irmão, por que insiste em procurar sombras em vez de luz? Essa necessidade de colocar em evidência fraquezas e fragilidades dos outros pode esterilizar nosso coração. 

Se nosso olhar é negativo, desconfiado, impuro, começamos a desconfiar de nós mesmos também e nos tornamos agressivos para parecer fortes, arrogantes para parecer justos, intolerantes para parecer inteligentes, violentos para parecer corajosos. Para parecer, na verdade! Vivemos em um tempo que supervaloriza a aparência.

Hoje Jesus nos dá uma grande certeza: Ele vem nos dizer que “toda pessoa boa tira coisas boas do bom tesouro do seu coração”. Todos nós temos um bom tesouro guardado em potes de barro, ou seja, guardado na fragilidade do nosso ser e viver. Nosso primeiro tesouro é o nosso coração. 

Nossa vida é verdadeiramente viva se cultivamos tesouros de esperança, paixão pelo bem possível, pela melhor humanidade possível, pela melhor política possível, pela melhor convivência possível e uma “casa comum” onde todos vivem bem e ninguém é excluído.

Os discípulos de Jesus devem prestar atenção em suas palavras e segui-lo e mudar o jeito de viver e crer. O cristianismo começa sempre em nós; a conversão começa inicialmente em mim e não nos outros. Muitas vezes somos hábeis em querer converter os outros, apontar seus defeitos, achando que os outros são sempre culpados. A conversão pessoal e contínua é princípio da ressurreição: para cada um e também para a comunidade. A Igreja se renova e ressurge e renova todos os seus membros.

Então vamos nos livrar do olhar maldoso, mas vamos nos livrar também de tudo que não é verdade, e que alimenta a maldade, o desprezo e a rejeição do outro. Jesus nos dá o Evangelho do bom fruto, da fecundidade criativa, do gesto que realmente faz o bem, da palavra que verdadeiramente consola e verdadeiramente cura.

Na próxima quarta-feira, com a imposição das cinzas, iniciamos o Tempo da Quaresma. Tempo litúrgico que nos prepara para a grande celebração da vitória de Cristo sobre a morte, a Páscoa, momento em que garantiu a salvação. Dia de jejum e abstinência. 

* As informações contidas nos artigos de colunistas, não necessáriamente, expressam a opinião do Toledo News.

Dom João Carlos Seneme

Dom João Carlos Seneme é bispo da Diocese de Toledo. Novos conteúdos são publicados semanalmente.

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