Suinocultura: debate na Câmara de Toledo expõe preocupação com a sucessão familiar

Apesar de ser uma potência econômica consolidada, a suinocultura e o futuro da atividade foram os enfoques da audiência pública na Câmara de Toledo, na tarde de quinta-feira (27). Mesmo com os grandes resultados conquistados ano após ano, o tom é de preocupação.
Entre os assuntos debatidos, os presentes alertaram para o êxodo rural, com aumento de produtores que abandonaram a atividade pela baixa rentabilidade e pela falta de apoio das empresas aos pequenos produtores. Os fatores resultam na maior preocupação atual do setor no momento: a sucessão familiar.
Edson Pacheco, vice-presidente técnico da Associação Regional de Suinocultores do Oeste (Assuinoeste), apresentou a preocupação com a continuidade da atividade como um alerta que precisa ser debatido com urgência. “Nós temos medos de, em um futuro próximo, não ter mais produtores na atividade. Com isso, toda a sociedade perde. Não são só os suinocultores, as empresas também perdem. Nós gostamos de ouvir quando o governador [Ratinho Júnior] fala que o Paraná é o mercado do mundo. Toledo é muito importante na questão de suínos. Nós temos que, enquanto Associação, chamar a responsabilidade dos suinocultores e, principalmente, das empresas. A empresa olha muito da porteira para fora, se preocupando muito com exportação. Está correto, é o trabalho delas, mas isso deixa de lado a questão interna da propriedade que é a sucessão. Muitos produtores reclamam que a atividade está com preço baixo, que o custo é alto para se manter. O que os filhos veem com isso? ‘Eu vou para a cidade, vou me formar, arrumar um emprego e não volto para cá’. É simples assim. Como ele vai ficar naquela atividade se o pai não está contente, se ele não consegue se manter naquilo ali? Isso é uma percepção que, infelizmente, as empresas integradoras não têm essa percepção, ou se têm, não chegou até nós ainda enquanto Associação. Nós nos preocupamos muito com essa situação”, alertou. Pacheco ainda informou que grande parte dos produtores de suínos de Toledo estão na faixa etária entre 50 e 65 anos – ou seja, devem ser aposentar nos próximos anos.
Luiz Carlos Bombardelli, secretário de Agricultura e Proteína Animal, relembrou que a suinocultura representa 42% dos R$ 4,7 bilhões do Valor Bruto de Produção (VBP) de Toledo – atividade essencial para a manutenção como município líder da produção agropecuária do Paraná pelo 12º ano consecutivo. Porém, alerta que a queda da sucessão familiar pode diminuir a produção no setor. “Quando a gente projeta Toledo daqui 10/20 anos, nós temos uma grande preocupação: quem estará nessas atividades? Toledo continuará tendo 40% ou mais da suinocultura? Esse é um problema que nos preocupa. Se a gente pegar o exemplo da cadeia leiteira, em 2016, produzia 101 milhões de litros de leite. Em 2024, caiu para 62 milhões de litros. Perdemos 40%. Quando você vai apurar os fatores, está ligado um tanto à mão de obra, mas, principalmente, à sucessão familiar. O jovem de hoje não quer assumir essa atividade. Vejo que nos suínos, se nós não nos preocuparmos, nós poderemos, daqui 20 anos, ter pouca gente produzindo nas propriedades”, advertiu.
Vanderlei Hertz, gerente de Agência Agro do Sicredi, apontou que a questão ambiental é requisito para a concessão de créditos. “Nós, como instituição financeira que fazemos empréstimos, estamos obrigados a estar sempre olhando a parte ambiental, a legislação, as licenças. Cada vez que um produtor vem pedir para fazer um empreendimento novo, uma ampliação, uma reforma, enfim, o primeiro documento que a gente olha é a questão ambiental. Acho que isso tem contribuído com a necessidade do produtor se adequar e também isso a gente vê na questão da sustentabilidade”. Ao mesmo tempo, o representante da cooperativa demonstrou preocupação com a redução da receita do suinocultor por conta dos juros altos que inviabilizam novas atividades. Isso proporcionou uma redução na velocidade de avanço da suinocultura em Toledo.
Além das manifestações sobre os problemas estruturais da suinocultura, o promotor Giovani lembrou que, apesar das preocupações, a atividade evoluiu de forma significativa no campo ambiental e tecnológico ao longo das últimas décadas. “A suinocultura passou por um avanço tecnológico gigantesco nos últimos anos. Eu sou testemunha disso. Sou promotor há 30 anos e acompanhei essa evolução. Nós tínhamos, há 40 anos, uma suinocultura totalmente rudimentar: sem tratamento ambiental, sem observância de questões sanitárias. Me recordo, quando assumi a promotoria de Meio Ambiente, eu fechava o ano com 250, 300 casos de problema com suinocultura. Hoje não chega a 20 por ano. Caiu 80%. Por quê? O suinocultor está mais consciente de sua responsabilidade socioambiental e investiu em tecnologia (...) isso trouxe benefícios não só ao suinocultor, mas também à sociedade”, relatou. Ferri acredita que a suinocultura está galgada em um tripé de fatores econômicos, sanitários e ambientais: “a atividade não se sustenta sem a observância desses três quesitos”, completou.
O evento, organizado pela Comissão de Desenvolvimento Sustentável (CDS), reuniu produtores, autoridades e demais interessados no debate. Os trabalhos foram comandados pelo presidente Bruno Radunz (Republicanos), acompanhado pelos vereadores Jairo Cerbarro (DC), Ricardo Santos (Republicanos) e Chumbinho Silva (PP). O parlamentar do Partido Progressistas solicitou a audiência pública.
Biometano
“Me encanta pensar nesse tipo de coisa filosoficamente. A galinha, o porco e a vaca, além de produzirem a carne, o ovo e o leite, produzem o próprio combustível para movimentar esses produtos. Será que o ser humano, da sua capacidade intelectual de promover progresso e desenvolvimento, não vai perceber que os próprios bichos estão falando para nós esse tipo de coisa?”, assim, Cícero Bley Jr, diretor executivo da Nuresys do Brasil defendeu que o momento pede uma transição energética responsável, para que o desenvolvimento não seja sinônimo de insustentabilidade. Ligado ao problema da sucessão familiar, o discurso de Cícero foi direto: “não há a possibilidade de fazer um rito de passagem, de pai para filho, de forma harmônica, sem que se passe pela evolução tecnológica da atividade”. Durante a sua fala, apontou os benefícios da utilização do biometano como combustível.
Por conta da fragilidade gerada pela concentração do atual modelo energético, Bley apresentou o biometano como alternativa renovável e sustentável, com potencial para ser produzido dentro da propriedade rural, a partir de resíduos da própria atividade agropecuária.
A transformação do biogás em biometano é um dos carros-chefes do Laboratório de Biocombustíveis e Simulação de Processos (LaBioSimp), grupo de pesquisa da Unioeste. Alif Natan Durval Cara, Caroline Ribeiro, Leonardo Galuppo Dalazem comandaram as explicações. Para a produção do biometano, o trabalho busca utilizar a pureza especificada para obter uma elevada recuperação e o menor consumo energético possível. “Com a otimização, nós tornamos o processo flexível para as demandas regionais do mercado. É o que nós buscamos: conseguir fazer essa ligação entre a academia e os produtores da região”, disse Alif. Os pesquisadores também mencionaram estudos para possibilitar o armazenamento do biometano em uma pressão menor que 35 bar, com a utilização de cilindros com carvão ativado – material absorvente que diminui o uso da produção e viabiliza o uso do biometano como combustível veicular. Os cientistas também desenvolvem estudos sobre a conversão do biogás em hidrogênio renovável e sobre a recuperação de nutrientes de resíduos da cadeia da suinocultura.
A audiência pública está disponível no canal da Câmara no Youtube:
https://www.youtube.com/watch?v=hZlDBcyJFwc.



















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