Vós sois o sal da terra, vós sois a luz do mundo


Foto: Toledo News

O evangelho deste domingo (05) (Mt 5,13-16) continua o discurso da montanha. Depois das bem-aventuranças, Jesus acentua a identidade e a missão dos discípulos através da parábola do sal e da luz. Colocando este tema na conclusão das bem- aventuranças, o evangelista São Mateus quer responsabilizar os cristãos, mostrando seu papel no mundo: a mensagem revolucionária das bem-aventuranças deve ser testemunhada com a própria vida, diante de todos. A ênfase no uso do pronome na segunda pessoa – vós sois o sal da terra, vós sois a luz do mundo – tem o objetivo de comprometer diretamente a comunidade eclesial na expansão do Reino de Deus: não somente o cristão individualmente, mas as comunidades e toda a Igreja são testemunhas do Reino e da sua justiça.

O sal, na antiguidade, era considerado dotado de uma particular força vital, devido às suas propriedades de dar sabor, conservar os alimentos e purificar. Deste modo, o evangelista aponta o papel indispensável e inconfundível do testemunho cristão no mundo: os discípulos de Jesus devem estar no mundo para ajudar as pessoas a descobrir o sentido da vida e não se deixar enredar pelas coisas vãs e inúteis.

Qual é a razão de ser sal do mundo? No mundo judaico, a metáfora do sal simbolizava a sabedoria. Os cristãos possuem a verdadeira sabedoria, o evangelho, a Palavra de Deus. O sal não pode perder a capacidade de dar sabor. O insípido é aquele que não é sábio, que perdeu o sabor das bem-aventuranças evangélicas, adaptando-se aos critérios do mundo. Os cristãos são testemunhas de outra Sabedoria. Se desejam ainda ter uma função no mundo, devem saber encontrar o caminho para testemunhar a sabedoria de Deus contida nas bem-aventuranças e concretizar em suas vidas o que Deus realizou em Jesus Cristo. Do ponto de vista químico o sal nunca perde o sabor, mas os cristãos podem perder, quando não conseguem mais apontar o sentido da vida.

A segunda metáfora é constituída pela luz que conduz ao sentido da vida. Vir à luz significa nascer. Nos Salmos o próprio Deus se define como luz. Seria uma interpretação errada acreditar que somos convidados a resplandecer diante dos outros com nossa própria luz e obras. Israel sempre foi convidado a ser luz das nações. A comunidade cristã sempre fracassou quando fez de si mesma o centro do mundo. A cidade sobre o mundo, o ponto de referência é o Reino de Deus, que cresce como
uma semente depositada no fundo da terra, onde o olhar do ser humano não alcança e a inteligência não pode examinar.

Os cristãos são a luz do mundo quando deixam brilhar as obras que testemunhem o primado de Reino e sua justiça, resumida nos valores das bem- aventuranças evangélicas. A Igreja se torna a cidade colocada sobre o monte, quando faz resplandecer a luz do Messias no meio dos povos, testemunhando uma outra Sabedoria, que não pertence aos sábios e inteligentes deste mundo, mas aos pequenos e humildes, aos quais Deus quis revelar seu mistério (Mt 11,25-30).

Estas duas metáforas evangélicas ilustram o caminho dos discípulos de Jesus e também os desafia: eles serão poucos (como o sal), mas serão capazes de agir, que farão notar sua presença. Também o contrário pode acontecer: uma religião sem alegria e amor pode se tornar insossa e não significar mais nada. Ser luz do mundo é como um farol que aponta para Deus e mostra o caminho a ser seguido, iluminando as trevas do pecado, do erro, da falta de amor.

Dom João Carlos Seneme, css
Bispo de Toledo

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Dom João Carlos Seneme

Dom João Carlos Seneme é bispo da Diocese de Toledo. Novos conteúdos são publicados semanalmente.

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