Quem é fiel nas pequenas coisas também é fiel nas grandes


Foto: Toledo News

No evangelho deste domingo, 18 de setembro, vamos nos deparar com um alerta de Jesus sobre o lugar da riqueza e do dinheiro em relação à vida cristã (Lc 16,1-13). Diante da salvação eterna, a atitude mais adequada em relação à riqueza é a prudência. 

A pregação de Jesus sobre o Reino de Deus está repleta de alusões à riqueza, afirmando claramente qual deve ser nossa atitude quando nos colocamos seriamente no seu seguimento. O amor e o apego desmedidos ao dinheiro nos conduz ao egoísmo e nos desfigura como seres humanos. A frase de Jesus deve ecoar em nossos ouvidos: “Não podemos servir a Deus e ao dinheiro”!

A introdução da parábola é importante porque oferece ao leitor uma chave de leitura, apresentando os interlocutores de Jesus. Os fariseus estão presentes, todavia neste momento Jesus se dirige aos seus discípulos. Ele fala não somente aos líderes, mas a todos os seguidores que acolheram as condições do discipulado e se colocaram na estrada do mestre, partilhando o seu caminho. O texto é um discurso eclesial sobre o uso dos bens.

São Lucas apresenta a figura de um administrador habilidoso e inteligente, capaz de encontrar uma saída para resolver seu problema de administração. O administrador da parábola habilmente avaliou seus próprios limites: “Para cavar, não tenho forças de mendigar, tenho vergonha”. Rapidamente resolve entrar em um acordo com os devedores e renuncia a receber benefícios maiores em vista da demissão iminente. 

De fato, ele não foi honesto em relação ao seu patrão, mas foi esperto e fez amigos entre seus devedores. A esperteza deste homem consiste em que, ao surgir uma situação emergencial (ser despedido), não desanimou, nem ficou de braços cruzados. Parou para refletir, verificou rapidamente as possíveis soluções – cavar? mendigar? – e ao encontrar a mais adequada, não se intimidou e fez o que era necessário.

Sob o ponto de vista moral, o comportamento é reprovável, mas este não é o objetivo da parábola. A parábola quer simplesmente chamar a atenção do leitor sobre a habilidade do administrador, que foi capaz de subverter uma situação que lhe seria desfavorável. Na última cena (v. 8) podemos ver no patrão a perspicácia do administrador, sua inteligência e habilidade em avaliar a situação e encontrar uma saída que lhe fosse favorável.

Devemos sempre situar o texto evangélico no contexto da grande viagem para Jerusalém e nesta caminhada Jesus prepara seus discípulos para o momento difícil depois de sua morte e ressurreição. Eles deverão ser fortes, inteligentes e capazes de enfrentar as mais difíceis situações e encontrar soluções para os problemas que surgirão. 

A parábola não elogia a desonestidade nem a corrupção. Ela quer levar os discípulos a refletir sobre a maneira rápida e eficiente com que o administrador encontrou uma solução.

A riqueza não é um mal em si mesma, mas pode se tornar um empecilho quando o homem se apropria dela e a acumula para si mesmo, comportando-se como se Deus não fosse o verdadeiro proprietário e o homem um administrador. A autêntica função da riqueza consiste em ser um instrumento de comunhão: o dinheiro deve ser partilhado com os pobres, senão se torna um instrumento de iniquidade.

Como podemos ser capazes da comunhão com Deus se não somos capazes de administrar com justiça um meio que nos coloca em comunhão com os irmãos? É uma verdade simples, mas que nos desconcerta, porque nos obriga a refletir.

Dom João Carlos Seneme, css

Bispo de Toledo

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Dom João Carlos Seneme

Dom João Carlos Seneme é bispo da Diocese de Toledo. Novos conteúdos são publicados semanalmente.

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