No banquete do Reino todos são convidados


Foto: Toledo News

São Lucas, em seu evangelho, apresenta várias vezes Jesus como hóspede de um fariseu; todas as vezes há um ensinamento importante. No evangelho do último domingo 28 de agosto, na casa de um fariseu, Jesus, através de um discurso sobre o bom comportamento no contexto de um jantar, coloca a reflexão ao um nível mais profundo: trata-se do banquete no Reino (cf. Lc 14,7-14). Este é o ponto central da palavra do domingo: um convite a assumir a lógica do Reino, que totalmente diferente dos reinos humanos. 

O contexto é um jantar na casa de um fariseu. Ali Jesus presta atenção no comportamento das pessoas e não se intimidada em criticar os convidados que procuram os primeiros lugares e, inclusive, em sugerir a quem o convidou quais pessoas deverá convidar na próxima vez: “Não convides teus amigos, nem teus irmãos, nem teus parentes, nem teus vizinhos ricos. Convida os pobres, os aleijados, os coxos, os cegos. Estes não têm como retribuir”.  

As palavras de Jesus vão além de normas de boa educação ou etiqueta social, ele se refere ao banquete final onde nos encontraremos com Deus face a face e ali teremos que prestar contas do que fizemos com nossas vidas, nossas escolhas e nosso comprometimento com o Reino de Deus.  

Jesus conclui a parábola dizendo que todo aquele que se exaltar será humilhado, e todo aquele que se humilhar sobre o exaltado. O que significa humilhar-se? A resposta se encontra em Jesus. Ele se abaixou, desceu: não com palavras, ou com sentimentos, mas com fatos. Tudo começou quando Jesus assumiu nossa condição humana, deixando de lado seu ser divino e humilhando-se e sendo obediente até a morte (Fl 2,6-8). Sempre foi coerente com esta escolha.  

Na Última Ceia, abaixa-se para lavar os pés dos discípulos, comporta-se como aquele que serve. Foi até o extremo do amor na cruz. Depois o Pai vem para resgatá-lo e estabelecê-lo como rei do universo. É assim que Deus realiza a sua Palavra: aquele que se humilhar será exaltado. Ser humilde significa ter os mesmos sentimentos de Jesus, comportando-se como Ele se comportou.  

Humildade é disponibilidade para descer de nossos pedestais, ir ao encontro dos irmãos, abaixando-se, sem medo; é vontade de servir por amor, não por algum cálculo ou vantagem. Acima de tudo, é gratuidade, como diz o evangelho a respeito de convidar para o banquete aqueles que não podem retribuir. Ser humilde, segundo o modelo de Jesus, significa perder-se, gastar-se gratuitamente; não viver para si mesmo, mas para os outros, procurando elevar os que vivem arrastando-se. 

Os sinais do Reino que hoje Jesus chama a atenção – humildade, gratuidade e amor desinteressado – aparecem como antítese mais radical da sabedoria do mundo: o evangelho nos obriga a olhar o outro lado. O mundo exalta o orgulho, a subida, não a descida, fazer caminho às custas dos outros, não ceder aos outros.  

São Lucas convida seus leitores a reproduzir, no modo de amar, as características do amor bondoso e misericordioso de Deus, procurando imitar sua grandeza e bondade para com os bons e os maus. Nesta atitude, o evangelista vê um modelo radicalmente oposto daquele oferecido pela sociedade do seu tempo e também do nosso tempo que se fundamenta no lucro e na troca de interesses.  

Neste último domingo vocacional, Cristo vive! Somos suas testemunhas, celebramos todos os cristãos leigos e leigas que, entre família e afazeres, dedicam-se aos trabalhos pastorais e missionários. Que Deus os abençoe na oferta generosa de suas vidas pelo Reino.  

Dom João Carlos Seneme, css 

Bispo de Toledo 

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Dom João Carlos Seneme

Dom João Carlos Seneme é bispo da Diocese de Toledo. Novos conteúdos são publicados semanalmente.

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